segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A escova de dente e meu disco do Chicago

Eles foram comprar um disco! Récem-namorados! Pra ele era hora de mudar e (re) começar, receitando muita atenção e carinho pro novo relacionamento. O quê melhor do que consagrar a trilha sonora deles?

Era um programa normal e comum para ele. Adorava música. Ela, pela primeira vez estava experimentando ir procurar algo que não fosse: Lady Gaga, coletânea do ABBA, Cazuza, Legião Urbana (prum amigo gay qualquer), José Augusto ou Fábio Jr (pra mãe), Fernanda Takai, Maria Gadú ou aqueles discos horríveis do Emmerson Nogueira (com 2 “emes”... nossa mãe!!!!).

Ele queria comprar o novo do Robert Pollard do Guided by voices. Entraram na loja e ele reconheceu numa das vendedoras um sensível potencial para definir rapidamente a busca!

- Oi. Você tem um disco chamado “Space city kicks”. O cara chama-se Robert Pollard.

- Huuuummm... Não sei te dizer. Peraí.

Conforme manda a regra, pede ajuda ao estoque armazenado no computador. Segue.

– Não tem não.

Ele bem que podia ter agradecido e ido em direção à próxima loja. Vira pra novíssima namorada e pra demonstrar milimétrica importância, pergunta se ela acha que pode encontrar algo que goste ali.

- Vi o She & Him novo, mas já baixei! Podia ser a Duffy! Na verdade não sei o que poderia ser bom.

Na segunda oportunidade do final feliz, ele agradece a atendente e displicentemente diz ao sair:

- Acho que a gente se conhece, né?

Tarde demais. Ao invés de ouvir um convencional “sim, estudamos juntos” ou “você mora perto da casa da minha tia”, na envergadura da virada triunfal de saída dele, nessa hora brutalmente interrompida, ele ouve:

- Fazíamos coral juntos!

E como se ele houvesse entregado a chave de sua própria casa pra ela livremente entrar, ela dispara:

- Você lembra o que você fazia naquela época? Você escovava os dentes com a minha escova depois do lanche!

- Noooossa. Num lembrava disso. Disse ele.

Ele percebe sutilmente que a recém escolhida rapidamente tencionou todo corpo e deu uma leve distanciada como se quisesse ser a mais educada possível. Claro, que não ficou fora do alcance audível da pequena conversa que seguiu.

- Pois é. Incrível você não lembrar isso!

- Eeeehhh... Você tinha uma irmã gêmea, não é?

- Não! Muito parecida. Mas não somos gêmeas!

Na tentativa de justificar o fato do compartilhamento bucal, ele tentando salvar-se ao mesmo tempo que diminuir o constrangimento, continua:

- Namorei sua irmã, não foi?

O que é eu que esse idiota tinha que perguntar – e piorar – essa situação e fazer uma pergunta estúpida dessa se a atendente estava afirmando que era DELA a escova compartilhada? De onde ele tirou essa idéia maluca de perguntar se ele tinha namorado a IRMÃ dela?

- Não. Não foi ela!... Fomos todas nós!

No final ele comprou uma coletânea do Chicago pra ouvir “IF you leave me now”, mas antes, ouviu a última palavra do ex-próximo amor possível, assim, bem baixinho no ouvido, antes dela sair pela porta: “cretino”.

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