Certa feita, alguns dias bem avançados do período de gestação criativa das novas músicas da banda, Marquinho me apresentou uma melodia, que no primeiro momento não passou pelo meu “detector de possibilidades”. Claro que quem comigo convive, sabe que meu único parceiro (real) de composição é Marquinho (Laércio está ainda em fase de experimentação!).
Mas deixa eu lhes contar (não sei ao certo se essa capacidade que julgo ter, realmente faz diferença!): toda vez que nasce uma melodia ou parte/início de uma letra, logo vejo ali, numa fração de segundos ou minutos, a potencialidade de se tornar uma canção viva e vibrante. Dentro dos moldes de como enxergo uma música pra ser tocada por nós!
Marquinho perambulou ao meu lado por algum tempo, nas nossas reuniões e saídas, tentando emplacar essa melodia e letra incompletas, tentando me convencer que ali estava uma possível música pra gente juntos colocar no mundo!
Não lembro bem, mas o que mais distanciava dela era o ritmo. Contudo, o que me distanciava mais ainda do que a maneira como ela (canção) se apresentava pra mim, era a similaridade em altas doses com outra música do nosso primeiro disco: “Teu amor pra mim”. Outra canção original do nosso “Tarcísio” (depois explico o porquê do carinhoso apelido).
Não entendo bem, mas pensei ser isso um grande problema. Também pensei ser uma daquelas fases sem inspiração de todo artista, largando logo na cara do Marquinho uma declaração do tipo: “Porra Marquim... muito parecida com tua outra música, caralho! Vão dizer que a gente tá só remontando o que a gente já construiu lá atrás!”... e segui desprezando (respeitosamente) a música.
Ele até foi tentando, longe de mim, e junto com o Laércio, terminar a música! Não sei se era porque tinha que ter nós dois e eu não aceitava isso... Simplesmente desprezei a música! Não funcionava.
Mas tava lá... na primeira oportunidade que tinham... lá vinha a melodia! E a gora com o reforço do Laércio, que vez ou outra, sem a presença do Marquinho e como quem não quer nada, tocava com ritmos e sincopes diferentes! Mas a melodia que me lembrava a outra música não excitava em nada minha sensibilidade.
De tanto insistir falei: “Vai tomar no cú, caralho... toca essa porra aí pra eu ver!”
Também acho que algum gatilho foi acionado em mim!
Primeiro que comecei a achar que ter algo que lembra (ora, porra!) uma música... NOSSA!... Claro que não seria problema! Lembrei que na construção de uma identidade, a UNIDADE é algo precioso. A similaridade poderia não ser incapacidade e sim identidade!
Nessa oportunidade derivada da insistência, o que me apeteceu foi uma parte da música muito bem construída pelo Marquinho que dizia:
“Justo na noite que eu ia esquecer você
Você resolveu aparecer e acabar com a paz
Que eu conquistei dia-a-dia...”
(acho que o resto da frase foi escrita por mim)
Enquanto você dormia em outro lugar”
Aí fudeu... Marquinho tinha conseguido! Despertou em mim a paixão e conseguiu com que eu olhasse pra ela.
A melodia foi terminada (apareceram um Si e um Mi com influencias rítmicas e vocais do The Who, somadas a melodia não sei bem ao certo, se por mim ou pelo Laércio), a letra simples e pungente, escrita por mim e Marquinhos, brotou, e a nova canção realmente me venceu.
Quando apresento as novas músicas às pessoas especiais do meu convívio (só errei em fazer isso 1 única vez!), acompanhado do violão, essa música em especial me causa uma sensação que ainda não sei definir. Mas é agradável! Da última vez que a toquei pra alguém, fui atropelado por uma crise de risos que, pensando hoje, agora, não consigo identificar a origem. Cantava e ria. Daquele riso entorpecido de paixão. Que se dá pra alguém que você sabe estar apaixonado por ela e ela por você. Aproveitemos o início, sem manchas ou mágoas. Esses são os melhores risos.
Hoje decidi escrever essa, dentre tantas outras (interessantes e curiosas) passagens, por causa de um maldito sonho!
A letra diz:
“Essa noite eu tive um sonho
Mas você não disse nada
Eu não queria ter acordado
Mas um louco me acordou”
Acordei! O que eu quero dizer é que todas as canções desse disco possuem um dono. Seja o (s) autor (es) , a fonte de inspiração, histórias reais ou desejos fictícios, passado e presente. Essa música, que acho pertencer muito mais ao Marquinho do que a mim, apesar do meu auxílio, encontrou nos meus sonhos um “dono” que jamais pensei encontrar!
foto: Natália Hisse