terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Doce barbaridade

Gal e Caetano (photoshop até na "imaculada" alma) 
Primeiro Caetano (coincidentemente com Gal!) foi capa da Rolling Stone com uma carga de “photoshop” (em ambos) que sem muito esforço conseguiu ser pior do que aquelas famosas fotos “no melhor ângulo” – ou disfarce - que postavam/postam nos orkuts da vida e seguem violentamente em “msns” e “facebooks” enganando os desavisados que inocentemente acreditam em realidade imaginária!

Broto, ainda continua sendo ridículo tentar ser o que você NÃO é ou... DEIXOU de ser! Quem garante isso é a decepção do “ao vivo”. A não ser que você vá ficar trancado durante toda vida, saiba que o mundo é maior que seu quarto!

No mesmíssimo momento que enxerguei a capa (reproduzida acima), enxerguei o disparate, quis confessar pra uma sereia, mas me calei, houve estardalhaço momentos depois e perdi a chance de compartilhar minha sensibilidade (ou na melhor das hipóteses, meu bom senso!)

Soube aí que até houve um pronunciamento revoltado do próprio Caetano, mas com a potência inversamente proporcional à voz da Gal.

Mas bem... A pergunta é: você reconhece que artistas importantíssimos e cheios de talentos podem se apresentar um dia como meras caricaturas do que um dia foram?

A novidade agora são os “blips” e “poins” que acompanham a voz da Gal nesse novo (deixa eu encontrar o termo certo para me referir ao Olimpo musical brasileiro) “almanaque/cancioneiro obrigatório” da mundialmente referendada musica nacional.

Tentativa de agarrar com a velocidade dos novos tempos a nova juventude eletrônica ou tentar parecer modernoso?

Faz pelo menos uma semana (mas acho que foram duas), a dupla deu uma entrevista na revista dominical da Globo, onde apresentaram a canção “Neguinho”, uma bela letra que ironiza, avacalha, critica e auto-imula. Perfeito!

Algo típico da inteligência e sensibilidade musical da dupla.

Na ocasião, me chamou atenção o despojo de Gal agarrada a um pedaço de papel abolado na mão que depois se mostrou ser a letra (Neguinho) não decorada da música!

Naquele momento percebi a força do texto, a inteligência poética e o balbuciar de palavras sem um pingo de rebuscamento, mas utilizando-se do mais secreto poder da escrita: por na ordem certa palavras simples.

Algo parecido ao que pacatas pessoas de bom gosto fazem com suas casas de pequenos cômodos e imensa qualidade estilística.

Algum tempo depois (hoje terça 06.12), deparo-me com os dois - e me surpreendo – reservando não somente dois blocos do Jô Soares, mas o programa inteiro. Quem senão os deuses merecem isso?

Eles abrem tocando “Neguinho”, dessa vez, acompanhados com mais um violonista e dispensáveis (mas dispensáveis mesmo!) outros “músicos?” com seus instrumentos eletrônicos que pra mim não fizeram o menos sentido (aaahhh Sr. Rogério Duprat).

Mais uma vez a harmonia se provou incapaz diante dos versos!

Não convenceu, e não acho que isso seria obrigatório por estar falando de quem falo.

Aí reparei que Gal estava lendo mais uma vez. Só que agora não era um descompromissado papel qualquer em uma das suas mãos, mas sim um estratégico monitor que deslizava suavemente a letra da canção.

Problemas?

Acho que não! E oxalá (bem baiano, né?) não conte o fato de:

1 - Comprometer uma performance, transformando-a em algo opaco, vazio (como era o olhar dela em busca da leitura) e enfraquecer um texto vigoroso;


2 – A busca (infrutífera) pela modernidade sem a capacidade de sinergia entre sonoridades, tendências e estilo que resulta num saco de intenções vazias;


3 – A Gal muito provavelmente não limpa casa, não cozinha, não lava roupa e talvez nem dê mais, e mesmo assim não consegue decorar a letra de uma música repetida (creio eu) ad infinitum em ensaios;

Aí vem você defendê-la ou me criticar!

Mas me diz, ela cobra ingresso, não é isso?

Sei... É que vou pagar pra vê-la lendo agora, né? Hum... Gostei! Massa!

Gal é ótima, uma verdadeira lenda que protagonizou “Gal Fatal”, os Doces Bárbaros. Tem voz abençoada e um talento que poucas possuem.

Nem é necessário falar do cara do tropicalismo, do incentivador “mutante”, das “Três Caravelas” e do poema do amor eterno “Qualquer Coisa”.

Pra citar um cara moderno, só adianto que “somos quem podemos ser”. Isso tem limite e data de validade e nem a modernidade do photoshop pode alterar!

Quando você vai para uma entrevista com pretexto do novo e só fala (e canta) sobre o passado, acredite, esqueça o futuro!

Ainda assim, me sinto bem melhor fazendo esse tipo de reclame do que ter que lembrar e encarar que vivo em tempos de Michel Teló... Que merda hein?

“...Neguinho é rei. Sei não neguinho”

3 comentários:

Anônimo disse...

amorzinhooooooooo isso é um desenho, é o que eles chamam de surrealismo (kkkkkkkkkkkkkk)brinks, na verdade é impressionismo. caetano é lindo. gal é linda e bahia maravilhosa.
ps. Meu nome é Gal.

Jessé Carvalho disse...

Meu caro HD. Adorei o texto, apesar de ser super fã de ambos. Ainda não ouvi o tal disco, Mas depois daquela entrevista no Fantástico. Fiquei meio com o pé atrás. A Gal, há tempos estava paradona, o bote precisa ser certo, entende? segue-se a risca. O Caetano já vem fazendo merda, há tempos também. Só não entendo porque tal espanto caro amigo, musico.

henrique disse...

Pra mim fica difícil entender como artistas da envergadura de Caetano não são mais fiéis a todo um trabalho respeitoso construído emanos de carreira, mass...

Obrigado pela atenção e por vc ter gostado do texto. Abraços Jessé.