segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A agulha e o punhal


Terminei por não dormir cedo como imaginei, e vi o cerebral (e chato) “A árvore da vida”.

É um emaranhado de perguntas, imagens, (in) definições, misturadas com filosofia, o big bang e o sentido do direcionamento amoroso numa família.

O diretor divide e categoriza a existência em: força da natureza (pai) e a graça divina (mãe).
Amor severo X Amor incondicional
A gente parece que nasce pra naturalmente se defender dos males que virão, e essa parece ser a razão do resultado do impasse acima.
Casal com 3 filhos que acaba por perder um deles, e logo após isso, somos apresentados a um deles bem mais velho, rememorando a vida, e aí, magistralmente, o filme se transforma num passeio poético sobre o nascimento e seus aspectos: a fragilidade, a beleza, a magnitude, a proteção e o amor no seu estado mais bruto! Belíssimo.
Ainda assim, o filme é uma experiência lamuriosa, mas serve (serviu pra mim) pra perceber que vivemos dissociando emoções claramente mais singulares e pacíficas – medo, insegurança, franqueza, carência, complexo - da nossa própria existência.
Posso até soar óbvio, mas quero dizer que evitamos exibir com muita clareza esses tipos de sentimento ou sensação, travestindo-nos de severa auto-suficiência e total controle de nossas vidas, sendo que corremos o risco da desventuresca perfídia. Pior! Da felicidade mal lograda!
Reconheço que é difícil mesmo correr riscos, e o assento da falsa abastança é bem confortável, mas também reconheci que a diferença entre agulhadas ou punhaladas pode ser determinada pelo aprendizado em conhecer e ser franco com nossos limites emotivos.
Sábado (no meio da loucura), encontrei um casal de amigos, ao qual um deles (o pai) falando de seus filhos, disse que aprendia a amá-los dia após dia, quando de repente uma mãe (aquela do amor incondicional) esbraveja sobre a colocação se referindo ao conceito (dela!) de que amor para os filhos não se aprende, se nasce num estado gigantesco!
Então interrompi e vociferei (com respeito) que dias atrás, quando vieram pela primeira vez Enzo e Bárbara dormir comigo (mães diferente, entendem?), deixei-os dormir na minha cama que é bem espaçosa e fiquei do ladinho deles na rede. Bem mais tarde, Babinha já dormindo, Enzo pergunta (o cara mais voluntarioso que se incomoda até com a posição do lençol que tem que ficar milimetricamente distante das pernas) se podia dormir na rede comigo!
Inversão de papéis: o desconforto deveria ser (por questão de proteção) meu ônus, e aquela coisa que tem os olhos mais lindos que eu pude enxergar na minha vida pula em cima de mim mesmo sabendo do seu (alto) nível de exigência de conforto e passa a noite toda agarrado em mim numa rede pessimamente mal posicionada (pelo menos para duas pessoas) ao lado de uma cama, sem se importar com absolutamente nada! Foi a (melhor) declaração de amor que eu precisava num dia de vívida decepção.
Sim, se “aprende” amar na medida em que, o que nasce gigante se agiganta mais e mais a cada ocasião especial como essa!
Calma mamãe, que o amor do papai só aparenta ser diferente, mas é o mesmo na intensidade e na direção! Isso é amor incondicional e ele parte dos dois lados e sobre isso não discuto!
Tão certo quanto a diferença da agulha e da punhal!
Alguns não suportam a sutileza da agulha – fragilidade em excesso - e outros têm mais resistência pra violência do punhal – vigor exagerado.
Esse é o início da confusão...
Pra mim, vivemos a “agulhar” os outros sem permissão, mas de uma maneira incoerentemente sensata, esse é o limite aceitável!
Mas o punhal...
Esse deve sempre ser usado pela frente!
Não é fácil levar punhaladas e resistir pior ainda! Quem escolhe viver de maneira intensa reconheço potencializar a aspereza dessa dor. 
Sei que é difícil entender isso e fazer até uma ligação entre tudo que foi dito, e por isso, só resta dizer que pra poder ficar bem, reconheça que existem coisas que não estão bem!
“Aprender” a amar existe e infelizmente “desaprender” também! E é aí que o punhal entra...
Dedicado ao Beto e ao Diego. Pai e filho que vão “aprender” por toda suas vidas!

Um comentário:

Amc. disse...

Magnífico e (como só você sabe...) "entorpecente"!