terça-feira, 28 de junho de 2011

O moço e a quimera

Dia desses, alguém me confessou uma tremenda atração por uma colega de trabalho. Ele estabelecido num intenso vínculo amoroso, estava apavorado por essa sensação incômoda de desejar misteriosamente outra moça!

Minha primeira reação foi tentar abrandar daquele peito a culpa quase flagelante, reafirmando que anos e anos de insurgência contra a monogamia ainda deixaram conseqüências no comportamento masculino. É como se não pudéssemos mudar isso ainda! Não completamente... Porque são traços quase congênitos!

“Quando a vejo, me descontrolo um pouco e minha reação é fugir. Sair de perto!” disse o moço cheio de pequenas confusões internas.

Espero que você entenda porque digo “pequenas”! Se não, se apaciente...

INTERLÚDIO

Exatamente no dia anterior, indo em direção ao centro da cidade, cruzei com uma moça. Acidentalmente atravessamos olhares e percebi o quanto ela era bonita. Ela era muito mais que isso! E mais forte do que a independência e autenticidade que ela transmitiu foi a maneira que ela me olhou no instante que passou ao meu lado. Foi intenso!

Ela me desafiou a alguma coisa que nunca saberei, e seus magníficos olhos castanhos me fizeram sentir um choque no corpo que raramente se sente. Principalmente um cara como eu!

Percebi que naquele instante tinha recebido um recado daqueles em que normalmente te leva prum estado de instabilidade e desconforto!

Eu parei ali na rua! Não consegui continuar. Tentei esvaziar a cabeça e decidi olhar pra trás. Então permiti que milhares de coisas – literalmente – fossem povoando minha cabeça.

Em extra-rápidos segundos foram risos frenéticos, frases ditas e esquecidas, segredos, músicas, roupas, lugares, cheiros, cores, poesias, raivas, admirações e decepções, revoltas, comidas, oportunidades, decisões e indecisões que me empurravam em alguma direção. E eu simplesmente não sabia qual direção! Apresentou-se _ ? _ oportunidade e eu não sabia diferenciar os artigos para usá-los: UMA ou A!

Meu corpo ficou me dizendo pra reagir imediatamente!

Sabemos todos que existem respostas que não serão alcançadas. E foi isso que escolhi naquela hora! Não era hora de “pergunta alcançada” ou “respondida”!

Lá ia uma moça, e naquela hora, meu coração sincopava freneticamente de apelos, dúvidas e uma espécie de coragem medrosa (ou medo corajoso?) que chamam de prudência!

FIM DO INTERLÚDIO

Disse ao meu interlocutor:

Você entendeu isso?
Por mais que essa sua sensação tenha lhe deixado abalado, estamos refém disso todas as horas do dia. Inevitabilíssimo, entende?
Mas... Você entende mesmo que não tem que se preocupar com isso? Que isso é o sistema imunológico das suas emoções funcionando? Dizendo pra você que mesmo tendo inevitáveis dores e doses de sofrimento você sempre poderá amar!
Isso é o que chamo de “eco sentimental”. Algo que reverbera em seu corpo para ser ouvido em situações extremas! E exatamente por isso só serve pra ser ouvido quando as coisas estão ruins, que não é o seu caso!
Não fuja de absolutamente nada! Não se esconda dessa sensação estranha! Sente você, sinto eu, sente ela (sinto muito!) e sentem todos!
Reafirme o que você sente pela pessoa que está ao seu lado e enfrente a moça que te incomoda!

Lembrei de Mário Quintana que disse:

“Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...”

Bem óbvio ele, mas singularmente sensato! Não acha?

No final senti um pouco mais de confiança, segurança e alívio: “A moça só será minha quimera se eu a transformar nisso” - li em seus pensamentos!

Missão cumprida!

Bem... Aprender e ensinar!

Lembra que pedi paciência lá em cima?

Pois bem... Fica claro o lugar pra onde se deve ir, porque quando falei “pequenas confusões internas” anteriormente, eu quis que ele soubesse quem causa as “grandes confusões internas”, e finalmente, saber que essa pessoa é que importa! Essa “grande confusão” é a loucura que Quintana se refere!

Nunca tive muitas chances de ter conversas esclarecedoras com alguém quando tive duvidas... E olha que dei todas as oportunidades, visto tudo que me aconteceu até hoje! Tive e tenho algumas cotas de “confusões”!

Não penso nisso como motivo de angariar simpatia. Gosto de antipatia!

Mas não posso evitar uma expressão com traços revoltosos!

Casei sem ter a menor idéia do que seria aquilo, me expus sem saber das consequências, defendia antes de aprender a agredir, formei uma banda sem saber tocar, cantei sem nunca antes ter tentado, fui trabalhar com rádio sem nunca ter pisado num estúdio, comecei a escrever sem ter afinidades com grande ou nenhum escritor e nem saber como se textualiza algo e finalmente fui fazer televisão sem ter muita idéia de todas as coisas que hoje faço lá!

Certo de que tive auxílio, não posso dizer que é bom aprender sem ter quem ensine e na mesma medida ensinar o que você nunca teve que ser ensinado!

E isso me acontece sempre!

Exceto eu, não há ninguém aqui em casa e agora a pouco, por exemplo, tive que aprender a ir sozinho na porra do meu quintal totalmente escuro para estender as roupas que lavei! Cês não tem idéia do que foi essa experiência! Ter que aprender algo que se necessita boa parte da vida num tempo menor do que escrevi o título desse texto!

Por fim, sei que mais que o choque que senti ao cruzar aquele olhar, a moça me enviou um sinal quase imperceptível, e portanto, não posso ficar reclamando que ninguém me ensina nada! Apenas que mais uma vez aprendi só!

O poeta disse: “Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.”

Não é, moça?

ps: pra reler ouvindo "living dangerously" de Sondre Lerche!

11 comentários:

Anônimo disse...

...

Anônimo disse...

ou seja vc é uma fraude.
ainda te dou uma chance amorzinhoooooo... caso contrário minha vingança vai ser o fato de vc morrer sozinho. até imagino a cena... "vc precisando tomar seus remedios (aqueles que todos os velhos tomam) que está na cômoda ao lado, mas vc está tão velho e debilitado (risos) que não consegue alcançar, aí se passará uma semana até que alguém decida te visitar, mas seu corpo já vai está em estado de putrefação. (é um final triste realmente, e bastante comum, mas é perfeito pra vc)ou... vc se casa comigo e nós colocaremos uma lâmpada no seu quintal.
p.s será que vou ter que me vestir de teletubie para te fazer passar vegonha?
bjinhoooooooooooo!
p.s exclua esse comentário por favor!

Anônimo disse...

Sr Henrique, morra fedendo mas não case com alguém que escreve assim!como sempre seu texto foi maravilhoso.parabéns

Bia Magalhães disse...

Rindo litros desses comentários... huahuahuahuahua

Helena disse...

A situação nunca muda...todo mundo querendo se passar, anonimamente, por alguém que permanece calado para agredir o interlocutor. Outro dia falamos de indivisibilidade e sobre saber com quem se fala. Não se confunda, moço.

henrique disse...

Certa vez, ardilosamente uma criatura conseguiu circular livremente na casa de distinta família. Então o que era ordem passou a ser desordem. Pro seu infortúnio e derrota, nunca consegui desordenar a direção do respeito. Policarpo Quaresma teve melhor fim!

Não irei deletar nenhum dos comentários porque não posso negar que o desagradável existe e ficou bem atrás o tempo que eu poderia ter algo que quisesse evitar! Não posso impedir que pessoas circulem aqui nesse espaço (minha casa), mas isso não quer dizer que são bem-vindas!

E Helena... Realmente não sei quem você é, mas certamente lhe reconheceria cego, surdo ou louco... E ultimamente percebo que sou as 3 coisas!

henrique disse...

e principalmente mudo!

Anônimo disse...

ahahahahahahahahahahaha
campanha, #casahenrique

Helena disse...

Sabe sim. Vc sempre sabe q lhe troca por outro, moço.

Polliana disse...

lalala...I'm not trying to disrespect but I don't wanna build a house, this old a place will do for now, to sittle for and sittle down, never really crossed my mind ,Oh I'm not gonna build a house, I don't really have the time,oh I'll be living dangerously with you instead...ADOREI!
Quer dizer q "as pequenas confusões internas" não devem sobressair-se às "grandes confusões internas", é isso?bjinhos

Anônimo disse...

vc não excluiu meu comentário? oh... que meigo... isso é amor, sim. é muito amor... "manhêeee, o Henrique me ama."
uma consideração:
qundo vc diz, " e ficou bem atrás o tempo que eu poderia ter algo que quisesse evitar! " isso significa que eu tenho uma chance, se não, vc nem responderia ao meu pedido de casamento.
nem tdos os casamentos são iguais, querido. se eu perdôo traição de quem não me interessa, perdoar as suas, que te amo, será mais fácil ainda. rsrsrsrs
vou te contar um segredo,
"me mandaram para terra pra te encher o saco."
no mais... proximo passo me vestir de teletubie, não queria ter que passar por isso.
AGORA VOU FALAR SÉRIO: eu estou muito triste, portanto eu vou desaparecer novamente, por um bom tempo, como da ultima vez. eu queria poder ficar, mas perdir a vontade. isolamento absoluto no planeta b612.
ps. dessa vez eu avisei.
ps² a ideia é amar o impossivel para que ele nunca te decepcione.