
Oi gente
Já me sinto bem melhor e talvez preparado para esclarecer os acontecimentos das últimas semanas.
Na madrugada de domingo (19.09) me envolvi num acidente de proporções razoáveis. Digo isso porque fui acometido de uma forte pancada na cabeça, e sabemos que isso pode ser preocupante.
Outro motoqueiro, que estava alcoolizado, avançou irresponsavelmente na minha frente e o choque foi inevitável. Como resultado da colisão, tive algumas escoriações nas mãos e pernas, lacerações no lábio, perdi metade de um dente, e claro, uma concusão seguida de pequeno corte na testa. Sim, eu estava sem capacete.
Não houve traumatismos de ossos e também não perdi a consciência na queda. Fiquei um pouco desorientado e perdi a razão por alguns instantes.
Fui prontamente atendido no hospital e fiz os exames obrigatórios em casos que envolvem a cabeça e o cérebro. Nada a declarar.
Como vocês podem ver na foto que fiz para publicar nesse texto, me recupero bem e não há maiores problemas no meu resguardo. Ainda há um inchaço no meu rosto que estou cuidadosamente tratando.
Não posso afirmar que tudo está plenamente recuperado, pois devido à forte pancada na cabeça, perdi parte da memória e esqueci episódios e pessoas que eram ou são do meu convívio.
No início me preocupei bastante e até escondi, na tentativa de forçar a minha cabeça para lembrar e tentar tudo voltar ao normal. Com minha melhora gradativa, comecei a pesquisar sobre o assunto e vi que era uma reação normal de vítimas de choques como o meu. Vi que minhas “memórias recentes” seriam as mais prejudicadas e que as lembranças mais sedimentadas pouco ou nada seriam apagadas ou embaralhadas.
Esqueci senhas recentes e antigas (recuperei algumas vasculhando minhas agendas e anotações), nada do que aconteceu da quarta-feira que antecedeu o acidente até o momento do acidente consigo lembrar, não lembro algumas pessoas e reconheço vagamente outras (e que segundo consta, deveria lembrar e reconhecer!), esqueci músicas e mais outras pequenas coisas que dominava no dia-a-dia.
Me pergunto se sou a mesma pessoa de antes, com essas alterações que ocorreram nas minhas memórias! Óbvio que depois de uma provação (o acidente em si, assim como suas consequências), em menor ou maior medida, você muda! A confusão se instala porque mudanças podem vir com "acréscimos" mas também "decrécimos", e quando você perde algo, logo sente e sabe que falta um pedaço de você. Apesar disso, sei claramente quem sou eu!
Tive que dividir minha angústia, pois sem entender o critério, ao mesmo tempo em que lembrava pessoas que conheci recentemente e tive apagado pessoas episódios antigos e importantes, esquecia outras pessoas recentes, assim como apagava episódios recentes e lembrava outros antigos.
Também esqueci músicas que foram feitas pra nosso novo trabalho, mas foi aí que veio o alívio: ao assistir um filme, ouvi uma frase que me fez instantaneamente lembrar uma música inteira! Precisei só de um gatilho para disparar a lembrança! Foi uma sensação estranha (e bom senti-la) como se de repente algo tomasse forma e passasse a existir onde antes nada existia.
Fui ao médico e, mais aliviado ainda, fiquei ao saber que isso era normal visto o tipo de acidente que me envolvi, e que provavelmente as memórias poderiam voltar gradativamente, apesar da possibilidade de algumas coisas estarem apagadas para sempre.
Menos temeroso, fiz vários testes e não tive prejuízos no que diz respeito a minha maneira de tocar ou cantar, assim como no meu aprendizado jornalístico. Isso me deixou bastante aliviado!
O médico me aconselhou o confronto com pessoas, fotos, músicas, trabalho, família, etc, para exercitar reações e estimular lembranças. Apesar de por enquanto não seguir suas recomendações, as coisas por aqui estão voltando ao normal.
Quero agradecer todos que de alguma forma se preocuparam com meu bem estar e dizer que tudo está ficando bem.
Sinceramente
Henrique Douglas